O que é fotografia de rua ?



Uma descrição simples seria dizer que a fotografia de rua é qualquer tipo de fotografia tirada num lugar público, retratando a vida cotidiana.

A importância da fotografia de rua e sua função documental na evolução da sociedade é inegável. É difícil separar a fotografia de rua da fotografia documental, e vice-versa. O tema da fotografia de rua deve ser amplo e com valores diferentes, caso contrário transforma-se em fotografia documental. Por exemplo, uma coisa é tirar fotografias sobre um evento, outra bem diferente é procurar capturar nesse evento algo que possa estimular os nossos sentidos. Neste caso eu evito documentar o evento em si mas tento procurar algo que me cativa e seja expontâneo. Sim, não é fácil.

Apesar da história da fotografia de rua não se poder resumir a dois livros, o que nos diz é que o livro de Henri Cartier-Bresson “The Decisive Moment” (1952) e do Robert Frank “The Americans” (1958) foram os catalisadores para este novo tipo de fotografia. Os anos 1960 foram uma época de mudanças e foi durante essa década que surgiram alguns dos fotógrafos de rua mais influentes. Podemos ver também no livro “Bystander : The History Of Street Phography”, de Colin Westerbeck e Joel Meyerowitz, a narração da ascensão da fotografia de rua.

A fotografia de rua, não sendo uma ciência exata, teve uma grande expansão na altura da criação das primeiras pequenas cameras fotográficas de 35mm. Atualmente qualquer máquina fotográfica e/ou telemóvel é usado para fotografia de rua. A famosa Leica – camera rangefinder, muito usada por Henri Cartier-Bressan, é a minha preferida. 😉

Para mim, fazer fotografia de rua não é tarefa fácil, não pelo receio da reação das pessoas mas sim porque nem sempre conseguimos levar para casa aquele momento que queríamos e que, por um motivo ou outro, acabamos por não registar. Há momentos vitais que se perdem para sempre. As emoções e alguns momentos espontâneos, impulsivos e especiais são muito raros de acontecer e é preciso aprender a olhar e a antecipar a situação. Tudo se passa em milésimos de segundo e a arte de ver e antecipar leva o seu tempo … é uma aprendizagem intensa e demorada.

Regras inquebráveis e fundamentais!

Para mim, e penso que para a maioria (99%) dos fotógrafos de rua, a regra inquebrável e fundamental é que a fotografia deve ser autentica e nunca encenada. Se for encenada nunca será verdadeira porque perdeu a sua autenticidade. Outro aspeto a evitar é a manipulação das imagens. Independentemente de ser numa sala escura (revelação analógica – filme), que permite também os seus “abusos”, ou num programa de manipulação digital é preciso ter sempre bom senso. Uma coisa é a simples correção outra bem diferente é a remoção ou inclusão de outros objetos. Sei que existem fotógrafos que o fazem mas acredito que no fundo sabem que aquela não é uma verdadeira fotografia de rua. Como já referi, perdeu o seu espírito de autenticidade.

Na fotografia de rua também não é obrigatório incluir pessoas mas como estamos a retratar a vida cotidiana, o ser humano para mim é um fator importante.

Fotografia de rua ou na rua?

É importante também distinguir a fotografia de rua e a fotografia tirada na rua. Por exemplo, uma coisa é tirar uma fotografia (dita: retrato) ocasional de uma pessoa na rua e outra bem diferente é pedir a essa pessoa consentimento para tirar essa fotografia. Desculpem, mas isso não é fotografia de rua! Eu sei que este tema toca nos limiares da fotografia de rua mas é mais uma vez uma fotografia encenada.

Não! Esta fotografia não foi encenada e é muito fácil de perceber isso. A espontaneidade está lá e nunca obteria este resultado se lhe pedisse primeiro para tirar a fotografia.

A fotografia de rua e sua lei?

A fotografia de rua varia de país para país, bem como as suas leis mas penso que o espirito é o mesmo. Em Portugal não existe proibição genérica de fotografar em locais públicos. Os fotógrafos amadores podem fotografar quase livremente em todos os locais, havendo contudo, algumas restrições específicas ao trabalho dos profissionais. Apenas alerto que quando abrange pessoas existe o direito fundamental de cada um a não ser fotografado nem ver o seu corpo exposto sem seu consentimento. Existia muito para falar sobre este assunto e em muitos casos é controverso, fazendo com que a fotografia de rua ande no limiar da própria lei. Independentemente da lei envolvida o importante mesmo é ter bom senso… bom senso e bom senso!!

Por exemplo, neste caso não fazia qualquer sentido pedir autorização seja a quem for:

A fotografia de rua tem de ser a preto e branco?

Não! O facto da maioria das fotografias de rua ser a preto e branco não invalida a utilização de cores. A preferência, entre outros fatores, pelo preto e branco deve-se ao simples facto de que a cor, na maioria das vezes, ser um grande fator de distração. Quando olhamos para uma fotografia de rua a preto e branco o foco fica no momento capturado/congelado que pretendemos transmitir o que poderá não acontecer quando existem muitas cores envolvidas, tornando-se claramente num fator de distração. Alguns utilizam as fotografias a cores para obter determinados resultados criando algumas sintonias. No fundo, cada um é livre de escolher o que acha melhor para obter o resultado pretendido.

Se és amante desta arte de fotografar, existe um projecto fotoderua.com que consiste essencialmente em promover os fotógrafos de rua Portugueses que vivem em Portugal ou no estrangeiro. Está a crescer aos poucos mas neste momento já são mais de 130 membros. 🙂

Para concluir, queria fazer a ressalva que este texto apenas expressa a minha opinião pessoal.

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